segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A coisa

A gente comprava discos de vinil e dizia “eu tenho todos os discos do fulano”, com orgulho de proprietário. Continuamos comprando CDs e tendo essa impressão feliz de possuir a obra de nossos artistas favoritos. Discos, livros, filmes em VHS, depois em DVD, toda a história que você conhece. Se nasceu a tempo, viveu.

Investimos, as últimas gerações, um bocado de dinheiro para ter essa sensação de posse. Claro que não tínhamos a ilusão de ter um produto único, mas era nosso produto único, reunido em coleções totalmente únicas, reflexos de nossa personalidade única e especial. Logicamente.

De repente a gente percebe que não possui a obra. Possui uma cópia da obra. Possui a mídia. E quando essa percepção fica mais nítida? Quando resolvemos fazer uma limpeza em casa e descobrimos uns bons metros cúbicos de fitas VHS, algumas ainda lacradas, ocupando espaço e recolhendo poeira. E nem temos mais um videocassete na sala (ok, eu ainda tenho um guardado, mas isso porque eu sou muito lerda em desapegar!).

Daí você olha os títulos e pensa que, qualquer coisa, sempre tem como baixar o filme para dar uma assassinada na saudade. E percebe que a mídia, a cópia, estão deixando de ser sinônimo da obra. Isso não é bom para a indústria cultural, claro, que vai ter que continuar rebolando para descobrir como sobreviver a essa guinada em seus gráficos de desempenho. Mas para você, consumidor de música, filmes, literatura? Quais são seus novos hábitos de consumo cultural? Qual foi a última vez que você ouviu um álbum inteiro? Comprou um CD? Desejou um box de série pela caixa, mais do que pelos episódios?

Eu, depois de anos sem comprar um CD de música, estou fazendo a coleção da discografia do Chico Buarque, essa que se compra em bancas (uma vida, aliás, fazendo coleções lançadas pela Abril!). E tenho lido que muita gente está fazendo a mesma coisa. Porque é uma coleção bonita, formada por objetos bonitos. CD/livreto/lombada bonita... Mesmo tendo todos os discos dele, o objeto me seduziu. Por ser bonito.

Então, o que nós queremos?

3 comentários:

  1. Eu comprei todas as temporadas de Charmed, mesmo sem caixa pra reuni-las e mesmo já tendo todas essas temporadas em dvds piratas.

    Comprei pq com o pirata eu me sentia "roubando". Sinto que agora comprei o direito legal de assistir os episódios quando eu quiser e quantas vezes eu quiser.

    E, pelo mesmo motivo, comprei tb as temporadas de Friends com caixa e livreto especial.

    Tb acho que a indústria cultural anda mal das pernas com toda essa facilidade, essa pirataria. Não sei qual será o rumo que as coisas tomarão. Mas, ainda sinto o prazer de adquirir de forma legal as mídias que gosto.

    E, é claro. Não menos cultural... tenho um prazer imenso em dizer que possuo toda a coleção original The Sims, The Sims 2 e The Sims 3 para PC. HAHAHAHHAA... Comprada com toda a labuta de um colhecionador. Item por item à medida que eram lançados... hehehehehe...

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  2. Essa culpa pirata é outra coisa que eu fico aqui mastigando entre neurônios... mas quem sabe falo sobre isso outro dia!

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  3. Verdade isso, pura verdade.Eu tinha 'todo a coleção' do castelo ra-tim-bum em VHS. Hoje, o que eu fiz com elas?Não vi mais, já me desfiz da maior parte....E o triste é que eu não era 'o dono' do castelo, só tinha as fitas! =(

    Baixar filme hoje é a solução que encontramos para 'quero tudo mas não tenho grana para nada', ao meu ver.Tipo eu, perfeito!

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